Produtores rurais também estão suscetíveis a fatores de estresse que podem levar a depressão, ansiedade e até síndrome do pânico.
Iniciativa leva informação sobre saúde mental ao meio rural
Produtora concordiense busca por soluções que melhorem a saúde mental e o o dos trabalhadores rurais
“Cultivando Bem-Estar”
O estigma que paira sobre as doenças e transtornos mentais, a falta de informação e conscientização sobre os sintomas é outro problema que é enfrentado no meio rural. É nesse sentido que, Thaís Neres Krindges CNA JOVEM líderes do Agro, criou uma iniciativa que estreia no próximo final de semana.. No dia, 6 de outubro, será realizado um evento no Centro Comunitário de Linha São Luiz, para debater e informar os moradores da comunidade sobre a saúde mental no meio rural e sobre segurança no trabalho. Com palestras e coquetel, os participantes serão recebidos a partir das 19h.
Esta é a primeira ação material de um projeto que iniciou a partir do curso de Lideranças Rurais, da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA). Thais percebeu essa demanda enquanto trabalhava no Sindicato dos Agricultores, onde recebia com frequência o desabafo dos trabalhadores rurais. Quando ingressou no curso de liderança viu a oportunidade de suprir essa demanda importante e urgente dos moradores do campo. Ela iniciou uma pesquisa para conseguir compreender o contexto dos produtores rurais do Alto Uruguai Catarinense e provar que eles também estão suscetíveis a fatores de estresse que podem levar a depressão, ansiedade e até síndrome do pânico.
Praticando a escutatória, Thais teve o a diversos relatos dos trabalhadores rurais a respeito de como se sentiam e das dificuldades que enfrentavam. A partir dos relatos ela construiu o projeto social “Cultivando o Bem-Estar”. O objetivo principal é a criação de um centro de apoio e bem-estar destinado aos agricultores da região do Alto Uruguai Catarinense, com a missão de conscientizar os agricultores e suas famílias sobre a importância da saúde mental.
A ideia é estabelecer parcerias sólidas com profissionais de saúde, psicólogos, terapeutas e conselheiros, que estarão disponíveis para apoiar os agricultores de forma gratuita. A intenção é oferecer treinamento e capacitação de líderes comunitários para que se tornem agentes de conscientização em saúde mental.
Para colocar o projeto em prática, considerando que faltam recursos, Thais explica que a ideia é utilizar espaços comunitários nas próprias localidades rurais, a princípio disseminando informações através de encontros com os moradores, a exemplo do que será realizado no dia 6, em Linha São Luiz. Mais adiante o intuito é oferecer nos Centros Comunitários uma ampla gama de serviços de apoio à saúde mental, como aconselhamento psicológico, grupos de apoio, workshops sobre gerenciamento do estresse e técnicas de relaxamento, assim como promover a prevenção através de atividades dinâmicas, como artesanato, dança e oportunidades de socialização, eliminando a necessidade de deslocamento para áreas urbanas.
A iniciativa é totalmente filantrópica e sem fins lucrativos. Até o momento Thais conseguiu o apoio de algumas empresas do comércio de Concórdia para conseguir viabilizar este primeiro evento, mas ela ainda teve que arcar com diversos custos do próprio bolso e dedica muito do tempo para conseguir tirar a iniciativa do papel. Quem quiser contribuir financeiramente para dar continuidade a este importante trabalho é só contatar Thais pelo WhatsApp (49) 9 8801-0539.
Fatores para a execusão do projeto “Cultivando Bem-Estar”:
Apesar da comida chegar à mesa todos os dias, raramente se pensa em quem realizou os esforços para cultivar os alimentos que garantem a saúde e qualidade de vida da população. Infelizmente, o meio rural e os trabalhadores do setor são invisibilizados com frequência. Os produtores rurais, muitas vezes, levam vidas solitárias, sem o a atividades de lazer, esportivas, culturais e educacionais, com dificuldades de o a políticas públicas e sociais e de iniciativas que promovam a qualidade de vida. Estima-se que 30% dos trabalhadores rurais podem apresentar algum tipo de transtorno ou doença mental. Os dados e estimativas sobre a saúde mental no meio rural ainda são escassos, assim como estatísticas sobre a ocorrência de suicídios em comunidades rurais.
Parece contraditório, pois as pessoas que não vivem essa realidade podem pensar que a vida no campo é mais calma que a vida urbana, menos estressante e até mesmo mais saudável, mas em muitos casos os trabalhadores rurais vivem sob condições de trabalho precarizadas, sem dias de folga ou férias e suscetíveis a acidentes de trabalho, com exposição a alto risco econômico, baixo nível educacional, isolamento geográfico e social.
No interior, o o a atendimento médico em geral já é difícil, quando se trata de saúde mental a população rural apresenta sérias dificuldades de o a tratamentos e recursos quando comparado a quem está nas cidades e centros urbanos. Essa constatação é do Relatório Mundial de Saúde Mental: transformando a saúde mental para todos, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2022. O estudo também relatou a falta de investimentos em equipamentos, instalações, materiais de trabalho e equipe médica. Além disso, a ausência de infraestrutura para transporte, o que facilitaria o o da população que está distante dos postos de saúde, é um grande desafio a ser enfrentado.
Outra constatação importante apresentada no relatório é quanto à distribuição de força de trabalho especializada (psicólogos e psiquiatras), que acabam se concentrando majoritariamente nas cidades e grandes instituições. Essa falta e desequilíbrio de pessoal treinado é uma enorme barreira ao atendimento e coloca os serviços fora do alcance das pessoas do campo, que muitas vezes não podem ou optam por não utilizá-los devido aos custos, tempo e sistemas de transporte serem pouco confiáveis.
Fonte:
O Jornal